24 junho 2007

O Propagandista










Os propagandistas, vendedores que, do alto do seu camião falam à multidão que embevecida os escuta, são cada vez mais uma rara visão nas festas e romarias portuguesas.

A arte da retórica funde-se com a visão comercial, com o sentido de oportunidade e o artigo certo, criando uma fórmula que hipnotiza o povo que assiste e garante, em dias de maior fartura, uma boa maquia. Outros há, no entanto, em que a despesa da deslocação mal se diluí... sinais da crise diz quem anda na arte.

É um jogo em que todos sabem as regras: Se agora é para as senhoras, abre-se um espaço em frente ao camião que rapidamente se enche com meia dúzia de mulheres, de porta moedas debaixo do braço, prontas a escutar o propagandista que desfolha o seu folhetim de quatro toalhas mais edredão não por 40, não por 30, nem mesmo por 25 euros...

Uma nota de vinte euros sela a compra e os conjuntos voam das mãos da mulher e do filho do propagandista, que isto de andar na estrada é um negócio de família.

Fiz estas fotografias no espaço das tradicionais festas dos Bugios de Sobrado, no concelho de Valongo, festa pagã que serve de mote à comemoração do São João por aquelas bandas.

Neste espaço, separados por alguns metros, coexistiam dois propagandistas. Coexistência pacífica, sem dúvida. Cada um, alternadamente dispunha de trinta minutos para dar de beber as suas persuasivas palavras, a uma multidão que se entretinha num vaivém entre os dois camiões.

Nos minutos que por lá estive as notas voaram, os sacos encheram-se e todos pareceram ficar contentes: o povo e o Sr. Alberto Pinto que incansavelmente repetiu, enquanto o artigo durou:

"Leva o relógio de pulso, leva o canivete, leva ainda a bolsa do telemóvel e leva também o ambientador da Ambipur, meu amigo! Tudo só 5 euros!"